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Atenção para o ar que respiramos durante os exercícios

Quando entramos em uma academia de musculação e ginástica nos preocupamos com a qualidade e variedade dos aparelhos, a orientação dos profissionais, o preço da mensalidade, a temperatura do ar, a limpeza da academia e banheiros, a ocupação por outros praticantes, entre outros aspectos. Mas parece que um elemento é negligenciado: a qualidade do ar respirado no ambiente.      

Esse é um fator importante para não ocorrer um contraste: a busca pela prática de exercícios no espaço da academia pelo praticante para melhorar a saúde, mas em caso de ar não saudável, há aumento do risco sobre nosso bem mais precioso. 

Entenda mais sobre a poluição do ar interno em ambientes com exercícios físicos e conheça os resultados do mais recente estudo sobre o tema.

Poluição do ar

Talvez você lembre dos episódios recentes de poluição severa do ar, como os incêndios na Amazônia, que elevaram os níveis de poluição do ar em São Paulo a patamares críticos, bem como os incêndios florestais na Austrália, em 2019 e na Califórnia – Estados Unidos, em 2025. 

 

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É preciso se preocupar com a qualidade do ar que respiramos em ambientes fechados, do mesmo modo que nos preocupamos em ambiente abertos. (Fonte: Getty Images)

Esses foram casos de poluição externa grave que mostram que o tema é relevante e urgente. Aqui vamos nos dedicar a entender sobre o ambiente indoor, ou seja, os espaços fechados que permanecemos durante o dia. E como permanecemos neles. 

Pesquisas mostram que ficamos de 90 a 95% do dia em ambientes fechados, como a nossa casa, escritório/trabalho, escolas e universidades, e muitas vezes quando vamos nos exercitar – academias. Mas por que é importante considerar o ar respirado nas academias? 

A relação entre atividade física e poluição do ar se torna relevante devido às alterações fisiológicas que o corpo sofre durante o esforço e que aumentam a suscetibilidade do organismo aos poluentes, pois pode ocorrer maior inalação destes que atingem o sistema respiratório de forma mais profunda.    

O aumento da velocidade do fluxo de ar, respirado pela boca, e não passa pelos mecanismos de filtragem do nariz, além da temperatura central do corpo, o fluxo sanguíneo e uma regulação positiva do metabolismo, podem catalisar efeitos nocivos dos poluentes inalados e exigem atenção.      

Se tempos atrás, alertei para os riscos de se exercitar ao ar livre, devido à poluição externa, hoje o foco são os ambientes fechados, como academias.

Qualidade do ar em academias

Nós, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) em conjunto com pesquisadores italianos, realizamos uma investigação sobre a qualidade do ar em academias, para verificar a associação entre concentração de CO₂ e humor dos praticantes de musculação.       

Notamos que as academias apresentaram concentração de CO₂ acima da recomendação nacional em quase 80% dos momentos analisados. Praticantes de exercícios nas academias com maiores níveis de CO₂ tiveram duas vezes mais chance de apresentar humor negativo. Esse foi um estudo de associação, não estabelecendo relação de causa (exposição ao CO₂) e efeito (humor negativo). 

 

É importante ficar atendo se a academia que você frequenta, possui um bom sistema de renovação do ar. (Fonte: Getty Images)

Em outra pesquisa, nas mesmas academias, estimamos que o risco de infecção por gripe e tuberculose aumentou durante os períodos de pico de ocupação humana. O CO₂, um produto da respiração humana, não traz graves problemas à saúde humana, mas em elevadas concentrações pode gerar alguns efeitos adversos.   

Como aplicações práticas dos estudos, sugerimos que as academias tenham uma rotina que proporcione aumento da ventilação natural, abrindo portas e janelas. Na prática, observo que muitas delas mantém apenas o ar-condicionado ligado enquanto estão funcionando.      

Portanto, fique atento se há renovação do ar na academia que você frequenta. Isso vale para outros ambientes como escritórios, salas de aula e até o quarto que dormimos. Em geral, os benefícios do exercício superam os riscos de se exercitar em ambiente poluído, exceto quando a poluição é severa.      

Além disso, os riscos são dependentes do tempo de exposição, além da intensidade do esforço praticado. A qualidade do ar respirado durante os exercícios é invisível, mas fundamental para saúde.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.

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